segunda-feira, 22 de março de 2010

Festival do Minuto 2010

Estive, no último dia 18 de março, no subsolo do MASP para acompanhar de perto o já tradicional Festival do Minuto.

Este evento dispensa apresentações e para quem gosta de cinema trata-se de um dos cinco mais importantes eventos do país. Com a curadoria de Marcelo Masagão poderia se esperar um grande espetáculo, mas o que encontrei no porão do MASP foi simplesmente inesquecível. Não preciso nem dizer que todos os vídeos estão disponíveis no site oficial do evento, que citarei no rodapé deste post, mas nada substituí o contato com o espaço físico tematizado, climatizado e visitado especificamente por amantes de curtas. Foram vários filmes maravilhosos, assim, como em todo ano, há alguns que são péssimos (minoria), então, aproveitei minha hora vaga e fiz uma lista dos 3 filmes que mais gostei e 3 dos que menos gostei. A lista negra não vou revelar porque acho que alguns filmes presentes nela talvez mereçam uma nova chance, então falarei somente daquilo que tenho certeza: a minha lista dos 3 melhores filmes do festival do minuto 2010.

Antes é preciso lembrar que o tema central é "A cidade". Dentro deste tema tínhamos outras divisões que refletiam a relação do vídeo com a temática central da mostra. São elas: Sociodermia, Graus, Guerra, Juntos, Intervenções, Palavras, Passagem, Ausência, Enquanto Isso, Lapso, Moi e Habitado. Os vídeos que mais me impressionaram estavam muito bem divididos, cada qual com sua influência na cidade e seu retrato.


Na coluna sobre Intervenções encontram-se vídeos incríveis como Intervenções Urbanas, Sea You e Cidadeando; mas nada prende mais atenção como Vovô Viu um Avião. O vídeo passa-se no próprio MASP, por volta dos anos 70, quando um senhor observa e coloca em prática uma função bastante peculiar para o vão do museu. Além de divertido o vídeo traz à tona a ideia de que tudo que está pronto pode ser recriado e o recriar é partir de um ponto zero de nossa imaginação que faz um todo ser apenas um ponto.


O segundo melhor filme, em minha opinião, fica por conta de Vous Ne Verrez Rein, da coluna Enquanto Isso. Sessenta segundos acompanhando uma drástica transformação numa paisagem fixa é como acelerar o astro rei para ajustar a câmera fotográfica. A imagem estática, o áudio frenético e as luzes que vão e vem são alucinantes; nos conduzem às transformações de um universo sem nossa participação. O mundo vive enquanto observamos. O mundo transforma-se mesmo se olharmos rapidamente. Aliás, a questão do tempo também é retratada nos outros filmes desta coluna.

Não quero ser injusto aqui, existem filmes que são espetaculares, além dos citados diretamente neste post, mas nada me impressionou tanto quanto o primeiro lugar, absoluto de minha lista. Trata-se do curta Tormenta no Entardecer, do totem Sociodermia.

Essa tormenta é tão inquietante que sua euforia passiva, instigada pela bela canção, se torna a grande criação do vídeo. A câmera narra os espectros, a canção conta as transformações e o espectador é o transformador. Romântico como Cézanne, em seu Rochedos em L’ estaque, Jorge Jimenez nos traduz as inquietações de um observador platônico. Um romance entre o que é o que será depois de mim numa rítmica soma entre a agonia e a euforia. Ouça seu coração no vídeo – este é o grande convite. Perceba como sua relação com o movimento da luz e/ou das luzes é tão intenso quanto sua relação com as formas, com os sons. O fantástico Romântico de Jimenez é a grande sacada dessa percepção convidativa para as transformações dramáticas que um indivíduo pode, e deve fazer de seu espaço. Espaço habitado e habituado, muitas vezes ignorado, mas essencial sempre.

Recrie de um ponto zero ainda que esteja pronto tudo o que seus olhos veem e perceba que as transformações dependem do olhar. Cézanne percebera isso e nós só olhamos o seu belo, quando deveríamos olhar para a sua matéria prima. A oferta pagã de uma arte intocável e, ainda que transformada em pedras e rochas no campo da visão, eis sua natura sobre a percepção humana. A cidade é um organismo vivo, natural, humano. Confira você mesmo:http://www.festivaldominuto.com.br/templates/Player.aspx?contentId=647&simpleText=tormenta%20no%20entardecer&related=[]

O Festival do Minuto continua no MASP, e no Site. Independentemente de você concordar ou não com as opiniões aqui prostradas, reforço que eis aqui apenas uma percepção. Vá até lá, ou visite o site www.festivaldominuto.com.br e insira suas percepções nos comentários deste post. Vale a pena investir um minuto de seu tempo nessa amostra que ficará marcada para sempre em sua memória.


Ass.: Colaborador Especial FV

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